Note-se como os resultados fornecidos divergem:
Na tabela abaixo foram utilizados os dados do ITIJ, por serem mais fáceis de consultar.
Votos | % | Mand. | Votos | % | |
Abstenção | 4 035 539 | 42,93 | 0 | ||
PPD/PSD | 2 159 742 | 22,44 | 108 | 2 159 742 | 38,65 |
PS | 1 568 168 | 16,29 | 74 | 1 568 168 | 28,06 |
CDS-PP | 653 987 | 6,80 | 24 | 653 987 | 11,70 |
PCP-PEV | 441 852 | 4,59 | 16 | 441 852 | 7,91 |
BE | 288 973 | 3,00 | 8 | 288 973 | 5,17 |
Outros | 247 499 | 2,57 | 0 | 247 499 | 4,43 |
Brancos | 148 378 | 1,54 | 0 | 148 378 | 2,66 |
Nulos | 79 995 | 0,83 | 0 | 79 995 | 1,43 |
Inscritos | 9 624 133 | 100 | |||
Votantes | 230 | 5 588 594 | 100 |
A abstenção é a força política (ou apolítica) que venceu estas eleições legislativas de 2011. O partido com maior número de votos não chega a representar um quarto dos eleitores. O país está prestes a ter um governo que representa pouco mais de 29 por cento dos eleitores.
Ignorada a abstenção, que é como os resultados são apresentados, o governo, com 132 mandatos, terá o apoio de 57,4 por cento dos 230 deputados eleitos para a Assembleia da República, representando 2 813 729 ou 50,4 por cento dos votantes.
Uns quantos espertos preparam-se então para governarem quatro milhões de portugueses que não se governam, nem se deixam governar e entreterem esses e os outros, que andam, pelo menos, a tentar governar-se, com uma permanente tourada, palhaçada, torneio ou refrega entre os porta-vozes de 132 deputados e os dos restantes 98. Quando não fizerem a vontade ao partido minoritário ou chegar a mostarda ao nariz a qualquer deles, batem com as portas e lá se vai o governo de maioria «estável». Este triste espectáculo foi preferido em relação a uma alternativa de coligação entre os dois, ou até mesmo os três partidos com maior número de votos.
No primeiro caso, o governo, com 182 mandatos, teria o apoio de quase 80 por cento dos deputados, representando 3 727 910 ou 66,7 por cento dos votantes.
Na grande coligação, o governo, com 206 mandatos, teria o apoio de 90 por cento dos deputados, representando 4 381 897 ou 78,4 por cento dos votantes. Só com esta grande coligação seria ultrapassado o número de abstenções, representando 45,5 por cento dos eleitores. Dos seus parceiros minoritários, o partido mais votado nada teria a recear. O abandono da coligação da parte de qualquer um desses parceiros, permitiria ao novo governo continuar a ter o apoio duma maioria na Assembleia da República. Só na eventualidade da coligação se desfazer totalmente, se poderia passar a ter um governo minoritário, cuja estabilidade dependeria do equilíbrio das forças políticas, na ocasião.
Uma grande coligação para governar Portugal é uma coisa de betinhos. Ali à marra com 98 deputados de quatro partidos, representando 2 298 993 ou 41,1 por cento dos votantes, é que é coisa de homem de barba rija e mulher de pêlo na venta, assim uma aliança de Ferrabrás com a Padeira de Aljubarrota, ajudados pelo Zé do Telhado e a Maria da Fonte, mas, principalmente, contra a maioria dos portugueses que não se sabem, nem deixam governar, n«o seu imediato papel de vítima e a sua imediata estupidez», «sempre o mesmo», a ver «passar a procissão política, com os seus andores, cavaleiros e palafreneiros», quer dizer, carros topo de gama, motoristas e escolta da GNR.
Uma palavra final para os «outros», todos os restantes partidos sem representação para lamentar, os brancos e os pretos (ou nulos). Está-se a falar de 475 872 teimosos, 4,9 por cento dos eleitores ou 8,5 por cento dos votantes. Das duas, quatro: 1) ou conseguem cativar a atenção do Zé Povinho; 2) ou se juntam numa coligação arco-irís (salvo seja); 3) ou se coligam com os parentes mais próximos ou de conveniência, à moda da casa; 4) ou devem dedicar-se a outra coisa qualquer, por exemplo, a uma ONG que parece ser «um emprego com saída». Aquela terceira, parece ser duas, ligeiramente diferentes, mas isto é de português para portugueses e dois e dois são, mais ou menos quatro.