"Por que há o ser e não antes o nada?"
alguém há de perguntar, um dia. nada relativo, nada absoluto.
tudo além do conhecimento, o nada, o não-ser, a via proibida. alguém há de responder, um dia.
proibida pra quem?
vejo:
a musa, as éguas, um homem, alguém, uma disputa, o
imóvel, o fluxo, o que está, o que cursa, o que jaz, o que jazz. alguéns hão de disputar ferozmente, pelos séculos, se o ponto se move e flui e devém, se o ponto imóvel, fixo, raiz, essência, essere.
olhar a praia do barco: o barco parado, a praia movente.
olhar o barco da praia: praia imóvel, barco cruza.
quem olha: sempre parado.
quem olha: sempre parado?
"E quem dirá que todas as estrelas, sóis, etc, não são o nada e o nada... (schopenhauer)
mesmo eu, supraconsciente, incapaz de apreender o nada, de aprender o nada. ao menos a mim a pergunta não importa, e tampouco a resposta.
"Antes querer o nada do que nada querer".
quero o nada, quero, quero.
jamais nada quererei. quererei, quererei.
mil 'quererei', sensação do nada. o fio entre o sujeito e o objeto, divisos, divíduos. o fio se torce pra mim, jamais se rompe (ainda), mas ainda se escamoteia entre um e outro. e eu aprendo o nada, por um átimo ínfimo e infinitamente fático, fálico, fácil, fútil, fráctal.
quero o nada. absolutamente impossível, mas... em relação ao 'tudo', sim, eu o apreendo. às vezes. sob condições. como sei disso? porque às vezes, sob condições, sei que não sei.
se os homens (alguns) buscam a iluminação pela fusão com o tudo, um d(eu)s busca a desiluminação pela dissolução no nada: a divisão agônica do que conhece com o que é conhecido. se tudo conheço, se tudo é por mim conhecido, se ambos - o que conhece, o que é conhecido - estão em mim sem dívidas, e sou eu sem divisores, onde o nada? busco a nadificação como tudo buscará a mim, o tudo.
para alguns (muitos), 'Nirvana' é um tudo.
mas a raiz sânscrita da palavra ensina que o Nirvana é como a extinção de uma chama: o querer.
nada-querer é o Nirvana inalcançável.
impossível também para mim.
querer o nada é o que quero, o que quererei, o que quer que eu queira.
o Nirvana é meu deus, meu pai, minha mãe, serei eu, se um dia não mais serei.
quero não querer, e querer não querer é ainda e sempre querer.
um deus, aprendam, é sempre querer.
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